sexta-feira, 3 de abril de 2009

Canadá: Qual o Saldo?

Enfim retornei do Canadá.
Enfim resolvi voltar ao Blog pra dar alguma satisfação.
Retornei a Curitiba no dia 03/03, com calorosa recepção do aeroporto de São Paulo. Não. Meus familiares e amigos não foram a São Paulo me recepcionar. A calorosa recepção ficou por conta do Brasil! Dos serviços aeroportuários! Dos funcionários do aeroporto!
A recepção a que me refiro me fez ter certeza, com precisão científica, de que eu estava realmente no Brasil.
Primeiro, minhas malas encontravam-se em estado lamentável.
Segundo, meu vôo para Curitiba foi cancelado e sem possibilidade de embarcar no vôo seguinte (só seis horas depois).
As pessoas falavam Português.
Ou seja, estava cientificamente comprovado que eu realmente tinha voltado ao Brasil.
Após a longa e paciente espera em Sâo Paulo, tomei meu vôo para Curitiba e cheguei em casa.

Há, no retorno uma sensação deliciosa de pertencimento ao nosso lugar. Aqui tenho meus antigos amigos, aqui cresci, estudei e construí minha carreira. Sinto que pertenço a esta cidade.

Mais do que pertencer à Curitiba, somente sinto em relação à Lapa, onde sinto que serei acolhido sempre, a qualquer hora do dia ou da noite, independente do que eu tenha feito.

Encontrar a família é ótimo. Comer comida brasileira (embora um clichê) nem se fala. A vontade de churrasco, arroz, feijão e bife era realmente grande.

Após mergulhar em churrascarias e na comida de mamãe, voltei ao trabalho, que não é pouco nem tampouco simples. Rever os amigos foi lindo.

Agora que faz um mês que retornei (exatamente um mês), posso sentir com maior clareza tudo o que ganhei na viagem, os ônus (mormente a considerável diminuição de reservas na conta bancária) e os bônus (estes traduzidos em incontáveis experiências que não me serão retiradas jamais).

Para um balanço final, tenho para mim que construí um saldo positivo. Morei um mês em um país distante, conheci muitas culturas diferentes, conheci pessoas de mais de onze países diferentes, comi comidas muito diferentes das minhas, conheci lugares impagáveis, tive tempo suficiente para me sentir um canadense, interagi com muitas pessoas e pessoas e pessoas...

Pessoas fizeram a minha viagem especial. Gente que não fala minha língua e muitas vezes nem sabe onde fica o Brasil (após a minha aula, não errarão jamais).

Em uma palavra, a experiência foi rica. Muito Rica. Amei pessoas, amei lugares, convivi com muitas diferenças aprendi muito, não apenas da língua inglesa, mas sobre pessoas, expectativas, planos de futuro, força de vontade, garra, determinação e seus respectivos opostos.

Parece exagero? Não é. Apenas um exemplo. Conheci um coreano que chegou no Canadá sem falar uma palavra de inglês. Chegou à casa dele com um tradutor para fazer as apresentações e dar as instruções e, quatro meses após, falava inglês com excelente vocabulário. Há outros detalhes que devem ser contados e tornam o feito dele muito mais interessante. O cidadão sofre com problemas mentais e gravíssimos problemas de relacionamento. Saiu da Korea porque sentia-se rejeitado por aquela sociedade perfeccionista para tentar imigrar para o Canadá. O cara vestiu a mesma roupa durante os trinta dias de convivência (acho que não tinha grana para fazer investimento em vestuário) e estava procurando, ainda assim, trabalho voluntário em qualquer ONG que tomasse conta de animais.

Enfim, esta é apenas uma das estórias que conheci naquela terra linda e gelada.

Balanço final: negativo na minha conta bancária e estrondosamente positivo para meu espírito, para minha humanidade e para minha história.

Saldo efetivamente positivo.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Mais um capítulo na nossa grande aventura pelo Canadá (que, na realidade não tem muita aventura senão o frio).
Uma das grandes descobertas minhas enquanto residente temporário em um país estranho, com uma língua e culturas diferentes (sim, a cultura deles é bastante diferente da nossa) é que, após a primeira ou segunda semana de deslumbramento, a vida é simplesmente tomada pela rotina, assim como se estivéssemos vivendo em Curitiba ou qualquer outra grande cidade.
O que muda é a paisagem.
No primeiro dia eu estava absolutamente ansioso para andar no skytrain, pegar o ônibus, andar nas calçadas congeladas, ver a paisagem (e que paisagem!). Bem, na verdade, no primeiro dia, além e acima de tudo isso eu estava absurdamente preocupado em não pegar o trem errado ou o ônibus errado já que o caminho é um pouco complicado para quem é apenas um beginer como eu era. Enfim, depois do terceiro dia, quando adquiri segurança no meu caminho (foi bem o dia em que eu peguei o meu primeiro ônibus errado também), eu realmente passei a me sentir ansioso por absorver toda aquela beleza e sentir que eu tinha saído da rotina.
Enfim, homem que se preza tem que ter uma rotina. Assim, adquiri uma nova. Involuntariamente, é claro.
O período de transe durou duas semanas, período no qual eu ficava observando com rigor os costumes das pessoas, os modos, os lugares, os cheiros, a beleza das paisagens urbanas e não urbanas, o mar, as construções, etc.
Sem me dar conta, estava inserido em uma nova rotina e pior (ou melhor, dependendo do ponto de vista), rotina de estudante.
A rotina de estudante inclui prazares, como o de não se preocupar muito com dinheiro, o de gastar pouco para fazer as coisas, de comer porcaria em lugar das refeições, passar tempo com os amigos, fazer novos amigos, beber umas cervejas locais, e, claro, não trabalhar. Apesar disso, a rotina inclui alguns percalços tais como não ter carro e ter de usufruir do transporte público, submeter-se a uma coordenadora que é uma mala sem alça, além de grossa e boçal, ter que esperar pelos ônibus no frio, sair de casa como se fosse uma tartaruga carregando a casa e a vizinhança nas costas (na verdade, carregando uma mala contendo tudo o que possa ser necessário ao longo de um dia todo na rua, como escova de dentes, guarda-chuva, pasta de dente, material escolar, luvas, cachecol, uma blusa adicional, uma cueca adicional - afinal nunca sabemos quando vamos errar a previsão daquele punzinho), dentre outros percalços.

O mais interessante sobre os pássaros engaiolados é que eles parecem realmente estar felizes ali dentro da gaiola.

O mesmo se diz de um homem em relação à sua rotina.

Eu sou exemplo vivo disso.

Estou feliz na minha rotina (que, no Brasil ou não, sempre se compõe daquelas coisas repetitivas que se faz todos os dias no mesmo bat-horário, no mesmo bat-local).

Garanto. Minha rotina canadense é alegre e feliz (e posso dizer que a minha rotina no Brasil é também... talvez eu seja um alienígena que gosta de rotina).

Assim, garanto a todos também que morar fora em Vancouver é como morar em Curitiba mas com outra paisagem. E garanto também que finais de semana são iguais aos brasileiros!

Os canadenses amam os finais de semana e as noitadas de final de semana. Foi o que constatei nestes poucos que passei aqui. Todo mundo sai animado e arrumado rumo aos pubs e night clubs na sexta e no sábado à noite. Os lugares lotam e deve-se chegar bem cedo para não ficar de fora. A novidade é que a balada começa e termina mais cedo do que em Curitiba.

E no domingo à noite as pessoas ficam se martirizando porque o final de semana foi incrível e no dia seguinte teremos aulas. Isso realmente é ser estudante!

Ainda, estou NO CARNAVAL em um país que NÃO TEM, MESMO, CARNAVAL. Estou, assim, comemorando o primeiro DESCARNAVAL da minha vida!

Para finalizar, estou ficando triste por ter de voltar para o Brasil na semana que vem. Fiz amigos e conheci gente que vale à pena. Me sinto dividido e fico pensando nos meus amigos que passaram ou que estão passando um ano fora do Brasil e, portanto, tiveram tempo de criar laços ainda mais fortes que os meus. Eles estarão eternamente divididos.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pra não dizer que não falei das flores

Fui abordado eletronicamente por alguns amigos que disseram que, pelo que estão acompanhando do blog, minha viagem está sendo um completo desastre e que eu deveria era ter ficado em casa.
Devo alertá-los! Isso não é verdade.
Relendo os posts realmente parece que estou tendo uma espécie de via crucis internacional, já que passei por diversas situações.
Não é isso. Chit happens!
Fazendo uma comparação com a rotina no Brasil seria o mesmo que ter um ótimo dia em Curitiba e uma ótima noite e, no momento de ir pra casa, eu pisar em bosta de cachorro ainda quentinha e mole, entrar no carro e esfregar sem querer no carpete. Merda acontece, mas o dia tinha sido ótimo. É mais ou menos algo assim.
Há que se dizer: Vancouver é o máximo.
Não há como explicar em palavras toda a aura da cidade e dos habitantes, o senso de cidadania, meio ambiente, segurança, lealdade, pontualidade, etc etc etc que os canadenses tem.
Vamos começar pelas belezas naturais. A cidade é tão privilegiada quanto o Rio de Janeiro (que, convenhamos, é lindo de morrer).
Vancouver é banhada pelo Pacífico, mas, especialmente neste ponto, formam-se ilhas e penínsulas, sendo que o centro da cidade (downtown) fica exatamente numa destas penínsulas. Assim, além das lindas construções, para onde quer que se vá ou se olhe se vêem as montanhas e o mar ou os canais. Todos os canais são repletos de veleiros e barcos estacionados, o que confere à cidade um clima mediterrâneo. É lindo de morrer. Para completar, as ruas são bem mantidas e bem sinalizadas, as construções são muito bonitas e a cidade toda é repleta de cafés. Aqui o metrô se chama skytrain e, ao invés de maltratar a imagem da cidade, a deixa ainda mais bonita.

Com relação ao aspecto humano, os habitantes, os canadenses, são gentis, atenciosos, amáveis, honestos e diretos. Referi-me aos canadenses porque a cidade é repleta de estrangeiros. Mais da metade da população é estrangeira, principalmente orientais (principalmente coreanos). Os demais estrangeiros dividem-se em sua maioria entre árabes, chineses, japoneses e filipinos e, é claro, brasileiros. Nas ruas ouve-se o tempo todo alguém falando em uma dessas línguas. Há que se registrar ainda que os orientais são proprietários de muitas, muitas, muitas lojas, bares e restaurantes. Com relação aos estrangeiros, eles não tem a educação nem o inglês dos canadenses, vamos dizer assim.

A beleza da cidade certamente foi o que mais me chamou a atenção, além da facilidade de se tomar o transporte público e da segurança.

Há que se dizer, Vancouver tem o maior número de sem-teto do canadá e isso é fácil de adivinhar, uma vez que Vancouver tem o inverno mais ameno do Canadá, logo, se vc for um homeless, que seja em Vancouver (onde você não vai morrer congelado).

Apesar disso eles são ao todo, oficialmente, 4.000. Há uma associação de sem-teto aqui que diz que o dado oficial é falso (isso me faz lembrar realmente do Brasil e pensar que todos os países tem os seus problemas e todos os governos tentam maquiá-los, alguns com mais sucesso que outros, é claro).

Ainda sobre os sem-teto, é legal contar (para que todos saibam) que eles tem direito a uma espécie de "bolsa-família", um valor mensal pago pelo governo para que eles não passem fome e tenham condições de se sustentar com um mínimo. Ocorre que a maioria dos sem-teto são drogados, pelo que gastam tudo o que ganham com os traficantes. Os sem-teto ficam quase todos concentrados em Chinatown, não por acaso, onde vivem os traficantes. Portanto, o setor é o mais deficitário em segurança, embora efetivamente não existam muitas ocorrências ali.

Eu pessoalmente passei por lá e vi um amontoado dessas pessoas, mas não me senti ameaçado. Se fosse no Brasil, me ajoelharia e pediria para levarem tudo, mas deixarem minha vida.

O bolsa-família deles funciona. Dá um mínimo de dignidade para essas pessoas (que sabem que poderão comer o mês todo) e isso reflete diretamente na segurança, que é excelente.

Os canadenses são malucos por coisas saudáveis, por saúde, por meio-ambiente, pelo ecologicamente e politicamente correto. Diante disso, aqui em Vancouver as pessoas andam de bicicleta pra todos os lugares, as ruas tem ciclofaixas e estacionamentos para bicicletas, há zilhões de mercados só de comida orgânica, há um lixo exclusivamente para recicáveis a cada esquina (só passa uma lata ou uma garrafa plástica pelo bocal), ninguém atravessa a rua no sinal fechado (de pedestres), todos atravessam na faixa, os carros param para as pessoas passarem, os casais homossexuais são tratados com a maior naturalidade deste mundo (e aqui eles podem casar), há consciência no uso da água (que por aqui é absolutamente abundante), enfim, é um lugar de sonho.

Sinceramente eu não fazia nem idéia de tudo isso antes de sair do Brasil. É um absurdo o que a educação e o senso de responsabilidade são capazes. Posso garantir que os estrangeiros que vem para cá acabam aprendendo a cultura dos locais, o que garante a continuidade da beleza.

Apesar de poucos e curtos percalços (como o ralo entupido e o motorista do ônibus, por exemplo), a viagem tem sido maravilhosa e eu realmente tenho melhorado meu inglês. Certamente inesquecível.

Amanhã prometo contar sobre a minha aventura na patinação no gelo e as demais atividades que fizemos por aqui!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Whistler e domingos




Como prometi, conteri um pouquinho mais sobre Whistler ou mar de gelo, como preferir.


A cagada de não ter comprado os tickets com o pessoal da escola acabou sendo uma bênção e talvez a coisa de mais sorte que me aconteceu. É claro que à primeira vista pareceu efetivamente uma cagada, já que eu estaria indo sozinho a um lugar com um ônibus de linha enquanto todos os meus amigos estavam indo juntos com um guia e uma excursão. Além disso o ônibus deles saía às 6h45 e o meu só às 8h00, com o que, encontrar o meu povo em uma cidade inteira parecia quase impossível.


Mas, como seu brasileiro e não desisto nunca (mesmo), comprei os bilhetes, me enchi de coragem e fui. E como fui. Sortudo.


Primeiro, descobri mais tarde com a Márcia que, para pegar o ônibus da excursão eu teria que acordar umas 4h30 com a finalidade de tomar banho, café, etc. e, por fim, tomar o metrô até a última estação, onde seria o encontro (longe pra dedéu). Ocorre que a merda do metrô só começa a funcionar às 6h30, pelo que não daria tempo de chegar lá. Sim. A Márcia tomou um táxi bandeira 2 pagando em dólar. Coitada.


Segundo que a merda do passeio que custou 50 dólares para o povo da excursão não tinha ABSOLUTAMENTE NADA INCLUSO. Meus amigos me contaram que o cara da excursão que serviria de guia era fake como Whistler e realmente era um guia.... guia de atividades pagas... e caríssimas. A última péssima notícia pro povo da excursão era que a porcaria do ônibus de volta somente saía em um determinado horário daquela cidade, às 7 PM. Ou seja, se você está odiando o passeio e com o rabo congelado, deve aguardar em algum lugar até o horário da saída.


Ao contrário, eu comprei os bilhetes por CAD 40, ida e volta e sem horário marcado para o retorno (contando com seis opções de horário ao longo da tarde).


Pra completar, o ônibus deles cheirava à vômito de chinês e o meu era limpo, confortável e com janelas limpas e imensas de onde se pode observar toda a paisagem até lá, que é linda e consiste em neve, neve, gelo e lagos congelados em ritmo assustadoramente crescente saindo de Vancouver até Whistler.


Ao chegar em Whistler e sem entender muita coisa, desci do ônibus, ainda achando que tinha feito uma mega cagada em ter ido sozinho daquele jeito para lá e sou tomado por uma golfada de vento a MENOS CINCO GRAUS....


A sensação de que havia me cagado completamente (e não literalmente, claro) aumentou imediatamente. Até porque eu continuava (como continuo) de All Star (mas dessa vez vim com o de couro, o que é melhor mas realmente não significa muita coisa).


Imediatamente identifiquei que eu estava em um resort. Era tudo muito perfeito. Além disso não identifiquei nenhum morador nem nenhuma casa.


Entrei no centro de informações para saber que tipo de coisas eu poderia fazer ali e fiz uma descoberta aterradora. Tudo, Tudo, Tudo era extremamente caro, confirmando a minha teoria de que aquilo era um resort.


Ganhei inúmeros mapas e um guia com 99 atividades para se fazer em Whistler. '


Devia ser algum tipo de piada.


Esquiar, fazer snow board, ser puxado em um trenó por uma matilha de Huskys (isso não é piada), ser empurrado num trenó individual pelas montanhas por um ser humano (mais uma vez, não é piada e eu não estou na China), fazer caminhada na neve (caminhada na neve????????????? c'mon!!!), descer a montanha com a bunda encaixada em uma câmara de pneu de Scania (serve o alerta... não é piada!!!!), subir em um bondinho até o cume da montanha (nessa eu não caio mais), além de inúmeras outras atividades na neve.


Todas as atividades custam mais de CAD 100 (cem dólares), menos o Nhundiaquara congelado, que é um pouco mais barato (pow, também!).


Diante de todas as inúmeras excitantes opções, pensei imediatamente que talvez desse tempo de correr de volta pro ponto de ônibus e embarcar no primeiro para Vancouver e esquecer que estive ali naquele lugar, o que foi re-confirmado ao ver um cachorro mijando na neve e a neve ficando amarela.


Neste momento, vi meus amigos vondo em minha direção com cara de quem comeu-e-não-gostou.... UAU! Que sorte!


Perguntei a eles sobre o que tinha acontecido e todos eles me contaram uma desgraceira atrás da outra. Desde o taxi caro que tiveram que pagar para chegar ao ponto de encontro até o ônibus vomitado, a surpresa de não estar nada incluso no preço do "pacote", além do preço das coisas naquele lugar.


Apesar de viver nessa merda eterna, o lugar estava cheio de gente que realmente parecia se divertir ali. Me senti profundamente pobre e miserável.


A única atividade que meu bolso poderia suportar era barrada pelas minhas roupas inadequadas. Claro que a atividade era o Nhundiaquara Canadense.


Enfim, após andar por todo o lugar, fiquei altamente entediado.


Era impossível passar vinte minutos fora de alguma loja ou de alguma loja (o lugar é repleto de lojas), onde eu fingia estar interessado em alguma coisa só pra poder me aquecer um pouco antes de mergulhar no freezer de novo.


Almocei duas fatias de pizza no lugar mais molambento do resort, fui obrigado pelos meus amigos a ficar andando e entrando em lojas, tomei um café perto das 3h30 e corri para pegar o ônibus das 4h30 (a contragosto do pessoal que tinha se enfiado na merda ainda mais do que eu e que queriam compartilhar aquela alegria comigo).


Na entrada do ônibus, como eu estava completamente atabalhoado e literalmente congelando (a -5 ou menos), entreguei para o motorista do ônibus o meu ticket inteiro, do qual ele não destacou meu comprovante (mas eu nem liguei já que eu estou no Canadá e todos são muito ciosos).


Como sou cagado de coruja (literalmente aconteceu na minha infância), após 15 min. dentro do ônibus o motorista disse que havia contado os passageiros e que alguém não tinha entregue à ele a porra do ticket. Ninguém se manifestou. O cara prosseguiu: "If someone didn't give the ticket, JUST LET ME KNOW AND I'LL KICK YOUR ASS OUT OF THE BUS" (gritando).
Para aqueles que não falam a língua, o motorista, muito amável, estava nos informando que se o filho da puta que não entregou o ticket se manifestasse ele iria, digamos, chutar a bunda pra fora do ônibus.


Quase entrei em desespero. Por pouco não me ajoelhei e pedi perdão por todos os meus pecados. Evidentemente o modo gentil e sutil com que ele pronunciou as palavras me fez recear em lembrá-lo de que ele tinha ficado com meu ticket inteiro. Minha integridade física e moral estavam em jogo. Talvez não fosse eu o "asshole", mas... a dúvida pairava.


Pensei em mil coisas pra dizer, tais como mostrar o comprovante do pagamento e do itinerário (que ainda estavam comigo), mas está escrito neles NOT GOOD FOR TRAVEL, o que significa que, se eu tivesse me manifestado, eu seria provavelmente mais um fóssil congelado que seria descoberto daqui 1.000 anos e seria objeto de estudo. Do que será que ele morreu? Nossa!!! Ele deve ser bastante primitivo, já que estava usando calçados primitivos absolutamente inapropriados para o gelo! Vejam! Ele deve ter morrido em uma briga de aborígenes! Está com o crânio afundado bem no meio da testa... esperem... pode se ler NIKE ali!


Enfim. Fiquei bem quietinho no meu canto (afinal eu tinha pago por aquela porcaria) e o bus partiu para minha casa canadense, sem maiores problemas.
É claro que eu não consegui dormir, já que estava tomado por uma tensão incrível (pensava na hipótese de ele parar o ônibus no meio do nada e dissesse que "agora" iria fiscalizar um por um - e eu sem o meu comprovante).

Felizmente nada ocorreu e eu desci em DownTown antes dos meus infelizes amigos que foram obrigados a jantar lá naquele fim de mundo.
Cheguei em casa ávido por jantar e dormir quentinho.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Un poquito de tudo

Sexta-feira tivemos um day-off. Isso quer dizer que não tivemos aulas na sexta e, portanto, que teríamos um final de semana prolongado. Corremos comprar os passeios para Rocky Mountains, mas estavam esgotados. Meleca!
Com isso, resolvemos então passear na sexta feira por Vancouver, que é repleta de atrações legais.
Nos encontramos sexta de manhã, no mesmo horário da aula, com um grupo de brasileiros que conhecemos na escola. Realmente não sei porque os brasileiros andam juntos, mas o mesmo vale para os coreanos, os japoneses e os árabes (que constituem, no todo, todos os grupos étnicos desta cidade). Somos ao todo oito pessoas (são dois casais, um do RS outro do RJ, mais a Camila e nós três.
Após o encontro e muita discussão, resolvemos ir para a Grouse Mountain, que vem a ser uma das montanhas que circunda Vancouver. A boa notícia (que eu já sabia) é que há transporte público até lá, o que evita os gastos de transporte (não que o transporte seja de graça, mas que eu tenho o passe de estudante).
É interessante notar que para atravessar de downtown para north vancouver (que são separadas pelo mar), existe o seabus, que, como o nome já diz, é um ônibus, mas é um barco.
Enfim, tomamos o skytrain até a última estação (waterfront) e lá tomamos diretamente o seabus até o outro lado, onde tomamos o ônibus até a montanha.
Chegando no pé da montanha já dava pra sentir o incremento do ar frio que vinha lá de cima. Me senti como se eu estivesse ao lado de uma bola de sorvete de 1.100 metros da altura.
E eu estava de all star (claro).
É claro que quando eu saí de casa não sabia que iria para a montanha, mas mesmo que soubesse eu não teria (como não tenho) nenhum calçado apropriado.
É interessante notar que ao chegar aqui pensei que compraria tudo para aguentar o frio desgraçado que faz na montanha nevada, mas, ao procurar as roupas e ver os preços eu imediatamente desisti e achei que passar um friozinho não mata ninguém.
Sensação essa reforçada pela presença de dois médicos viajando junto (cada um dos casais possui um membro médico), com o que me senti ainda um pouco mais protegido, já que sempre poderia dizer... doutor, meus dedos do pé estão lilás acinzentado, o Sr. (a) acha isso grave?
Claro que o médico homem é urologista (e garanto que o objeto da especialidade dele estava bem aquecido) e a mulher é ginecologista (e quanto a isso nem preciso dizer nada), mas um médico por perto é sempre bom.
Enfim. Chegamos à montanha e descobrimos que a subida até o cume (1.100 metros) é feito por um bondinho pelo qual se paga uma pequena fortuna (algo como CAD 40, ou R$ 80,00) por pessoa. Balancei, mas, como estava ali não tinha mais como dizer "não", subi na porcaria do bondinho já com meus pés congelando.
Imediatamente comecei a bendizer a vendedora do shopping que me vendeu o casaco de neve que comprei (e no qual ela aplicou um desconto inacreditável). A moça era uma alma caridosa na certa. Acho que ela, vendo minha morenice pensou... esse latino de merda não entende nada de neve nem de montanha e vai se arrebentar... melhor ajudar um pouco facilitando a compra de um casaco de verdade e salvar uma pobre e miserável vida.
É importante mencionar que a cidade estava inteira cinza com as nuvens de chuva...
Ainda, que a porcaria do bondinho sobre rápido, bem rápido e mais, sobre ACIMA DAS NUVENS!!! Isso foi demais! Lá em cima estava um sol lindo e com céu azul! Ora ou outra passava uma nuvem mais alta e transformava o lugar no neivoeiro eterno (que, claro, não era eterno).
A princípio me neguei a andar de all star de pano naquela neve gelada e molhada (importante dizer... molhada), mas, após alguns minutos de reticência saí andado por toda a estação de esqui amassando neve por todos os lados. Após dez minutos não é mais possível sentir os seus pés, portanto não se sente mais frio no pé e fica tudo bem. Olha... eu andei na neve durante um bom tempo mesmo... algo como uma hora... e aguentei.
As pessoas me olhavam como se eu fosse um E.T. Na verdade, naquelas condições, acho que eu era mesmo um E.T.
Após uma hora discutindo Goethe com dois médicos e andando pela neve com meus pés quase necrosados, entramos no chalé central para iniciar o processo de descongelamento.
Almoçamos lá e é claro que pagamos caro por isso, já que a outra opção de almoço era descer da montanha, perder os 40 dólares da passagem e comer no McDonalds.
Então, sorria, abra a sua carteira gentilmente e tente não enfiar a mão na orelha do desgraçado que vende a comida.
Não se pode reclamar da qualidade do almoço. Porções para esquiador m e s m o. Não consegui terminar nem o saduíche e nem a batata frita.
No Canadá todo mundo esquia. Desde a criança de sete anos até o senhor de 90. Esqui, Snowboard, patinação, trenó, hóquei e toda a sorte de atividades na neve são a loucura deste lugar.
Assim, falando um inglês macarrônico, sem saber andar de esqui ou qualquer daquelas geringonças e andando de all star na neve eu era, cientificamente, um E.T.
Após o belíssimo almoço e as visitas a todos os cantos do chalé e todos os lugares cobertos de neve acessíveis ao All Star, descemos daquele oásis (me refiro ao chalé quentinho e ricamente decorado e não ao oceano de neve e patinadores tresloucados) para a cinzenta Vancouver a fim de tomarmos todas as conduções de volta para casa.
No retorno, passei no centro da cidade para comprar bilhetes de ônibus para Whistler.
Todo o pessoal da escola (os brasileiros do nosso grupo) compraram os bilhetes na quinta com o pessoal da escola, mas eu estava em uma aula de comunicação que aconteceu na rua e perdi o horário de compra, portanto, fiquei sozinho para o sábado.
Assim, procurei uma companhia que fizesse o mesmo trajeto Vancouver-Whistler e encontrei na estação central.
Whistler é uma pequena cidade onde foi construído um grande Resort de neve com um monte de hotéis. É completamente fake como Las Vegas ou como a village da costa do sauípe, uma vez que nada cresceu ali naturalmente, mas tudo foi planejado, arquitetado e construído pela plêiade de hotéis do lugar. Ou seja, o local é assustadoramente perfeito e lindo, sem carros nas ruas, limpo, organizado e não tem uma casa sequer, apenas lojas, restaurantes, cafés, hotéis, lojas, lojas, lojas e pubs.
Além disso, Whistler fica a 200 Km ao norte de Vancouver, nas montanhas, e foi considerado por várias vezes o melhor Resort de neve do mundo (ganhando inclusive de Aspen e dos resorts europeus).
E, finalmente, lá faz um frio da porra. Muito mais do que na Grouse Mountain.
Mais finalmente ainda, eu continuava com meus All Star, jeans e meu súper mega ultra blaster casaco.
Ok.
Vou deixar pra contar sobre Whistler amanhã, por conta do horário.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Mais que palavras: Imagem. All Star na neve experience




Uma imagem vale mais que 1000 palavras.



Amanhã eu explico, mas olha isso!




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Everything Hates Fabiano

Orientais.
Este é um bom resumo de Vancouver.
Eles estão por todos os lados, eles não falam inglês inteligível, eles comem de boca aberta e... eles estão entre nós. Quase como Deus. Se for em Vancouver, talvez mais que Ele.
Ok Heresia.
Sem problemas, acho que paguei pelos pecados "in advance".
Não bastassem alguns problemas que andei enfrentando na escola (descaso da coordenação e desconfiança, dentre outros), aconteceram algumas coisas bizarras.
Antes de mais nada é preciso que se diga que eu me sinto realmente vivendo dentro de um filme de Hollywood. Para os que não sabem, muitos deles são filmados nas ruas de Vancouver, por economia e porque o fuso aqui é o mesmo da sede dos estúdios (eu realmente não sei qual a importância disso mas, vá lá, li num site).
Enfim, a paisagem é de filme, as pessoas falando são coisa de filme, a cidade parece um filme e, para nós brasileiros, a linguagem é "pretty much" linguagem de filme. E você dentro disso.
E, como em alguns filmes... ralos entopem.
Não pensem vocês que ralos entupidos são exclusividade do terceiro mundo não!
Aqui, em pleno primeiro mundo, em plena "melhor cidade para se viver do mundo" os ralos ainda entopem.
Sinceramente não entendo como os homens conseguiram fazer uma geringonça com muitas toneladas sustentar-se pairando no ar e ir tão longe e ainda não conseguiram resolver um problema prosaico como ralos e privadas.
Para se entender o clima perfeitamente é preciso que se diga que eu tenho acordado às 6:30 (Ivone!! - mimha secretária - É verdade, viu? pode perguntar pra minha host mother!). Faço a barba, escolho o número 1 ou 2 (ou ambos), tomo banho, me seco, corro pra tomar café (mingau, cereais, torrada e água) e saio correndo de casa para pegar a porcaria do ônibus que só passa de meia em meia hora (o que significa que tenho, obrigatoriamente, que pegar aquele ônibus das oito horas, senão chegarei atrasado, levarei falta e não terei certificado - na verdade eu nem sei mesmo para que eu quero aquela merda de certificado - mas enfim).
Agora vamos relacionar a teoria do ralo com o problema do atraso.
Acordei às seis e meia, como de praxe, e um dos estudantes que moram aqui (um outro brasileiro) estava indo embora neste dia. Assim, quando eu acordei, ele estava no banho. Aproveitei para arrumar o quarto, ajeitar a mala, enfim, matei um tempinho.
Saí do quarto e encontrei o cidadão pálido do lado de fora da minha porta.
Perguntei sobre o que estava acontecendo e ele me pediu para ir ao banheiro (onde eu supostamente teria que tomar banho) para ver o que tinha acontecido.
Era o caldeirão do inferno.
A água quente do banho do infeliz tinha alagado a porcaria da bacia onde tomamos banho com uns bons oito centímetros de água, nhaca e alguma coisa mais que não consegui identificar (graças a Deus).
Eu, o resolvedor-mor, fui dar uma de súper herói, encontrei um desentupidor grande e fui fazer pressão no ralo pra ver se tudo aquilo ia embora.
É claro que eu estava advogando em causa própria, já que precisava tomar banho pra ir pra aula (e já me encontrava desesperado e em um dilema entre fazer ele tomar toda aquela sopa ou tentar buscar ajuda).
Enfim, chacoalhei a bagaça tanto que começou a brotar do ralo toda a sorte de porcaria que pode ser encontrada nos melhores esgotos da cidade. A coisa piorou. Muito. Definitivamente.
Agora éramos dois desesperados tendo que explicar para a nossa mãe Canadense porque fomos tão estúpidos, entupimos o ralo e enchemos o local de sopa de cocô.
Foi dele a idéia de acordar a Maria e pedir clemência, além de ajuda, claro.
Posso garantir que ela não ficou muito agradecida por tudo aquilo e ainda por obrigar-se a emprestar-me o seu próprio banheiro, que usei de bom grado (e que banheiro! acho que Norte-Americanos são gamados em banheiros).
É óbvio que tive que correr como um maluco na rua congelada (estava -2,5 graus), escorregando como um pinguim e sem tomar café da manhã para não chegar atrasado na porcaria da escola, onde eu estava enfrentando os já mencionados problemas.
Everything hated Fabiano in that morning.
P.S. Bruno! Se você leu isso, não se sinta mal! Contada assim a estória fica mais divertida, ok?